21 de janeiro de 2010

O castelo...

Abri lentamente aquela porta que tinha fechado há largos tempos atrás... Era uma sensação estranha entrar naquele espaço. Era meu mas sentia-me insegura. Estava mudado... o ar era húmido com cheiro à erva fresca e selvagem que se tinha apoderado dos jardins outrora babilonicamente cuidados... a madeira perdera o brilho e queixava-se a cada passo que avançava... as grandes janelas estavam fechadas e cobertas dos fios reluzentes que uma aranha envergonhada tecia... a fonte pingava vertígios do que outrora era uma corrente forte mas harmoniosa de água pura e cristalina. O tempo ali não parou... avançou mais lentamente.
Fechei os olhos e fui levada a outra era.
*
Recordei o tempo em que contigo, pela tua mão, lado a lado, fui abrindo uma a uma as portas do meu castelo. Até apareceres nunca ninguém tinha passado dos jardins mas tu foste longe muito mais longe... Contigo descobri lugares mágicos, passagens secretas, novas cores, novos sabores, novos olhares... o outro lado da vida.
Durante o dia habitávamos mundos distantes. Nada nem ninguém suspeitava que estávamos tão profundamente ligados... Permanecíamos numa distância segura mantida suficientemente próxima pela linguagem do olhar... não eram preciso palavras, bastava o olhar!
E quando caía a noite o que mais desejava era o romper do silêncio pelas tuas palavras. E tudo fazia sentido; abriam-se as portas do castelo e começava aquela celebração da descoberta só nossa. Contigo falava a mesma língua, abria horizontes e ia sempre mais além. Crescia naquela magia em harmonia com o universo.
Até que um dia... tu sabes...
Tentei manter o castelo com aquela vida mas sem ti não fazia sentido.
*
Abri os olhos... sacudi as teias da atenta aranha e abri as janelas... Entrou uma brisa temperada e suave... Pode ser que faça aqui uma festa um dia destes... quem sabe?!

1 comentário:

Varas disse...
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